O segredo estava nas mangas

Quando Henrique Rocha regressou ao court depois de perder o segundo set, escrevi no Twitter que voltara mais leve depois de trocar a t-shirt normal por uma sem mangas. Era uma simples brincadeira, mas quando puxei pelo assunto com o treinador André Lopes, horas depois, acabou por dar-me o título da nossa entrevista.Por Gaspar Ribeiro Lança, em Paris
“Foi brutal vê-lo a voltar do balneário sem mangas. Demonstra uma afirmação, é dizer ‘eu estou aqui e não quero que isto acabe’”, explicou-me o treinador de Leiria que há sensivelmente ano e meio passou a conciliar a gestão do Racquet Sports & Social Club com o reforço ao CAR FPT.
E, de facto, houve ali um ponto de viragem.
O gesto em que eu reparei desde a box reservada à imprensa no Court 7 tinha um enorme simbolismo por trás.
Seria duro escrever que Rocha estava a ser amassado, sobretudo porque o primeiro set foi muito mais equilibrado do que o marcador transpareceu. Mas o rookie português — até esta semana nunca tinha jogado o quadro principal de um Grand Slam — estava tão encostado às cordas quanto possível, a perder por 6-2 e 6-1 com Jakub Mensik, um dos jovens mais promissores, já número 19 mundial e com um Masters 1000 no currículo, obrigado por isso a fazer o que até dias antes nunca um compatriota tinha conseguido.
Ao “retirar” as mangas, demonstrou que estava pronto para a luta. Mais impressionante do que essa mudança simbólica foi a resiliência que apresentou, mesmo quando no arranque desta missão se deparou com um obstáculo extra ao sofrer a primeira quebra de serviço do terceiro set.
Conheço o Henrique Rocha há pelo menos seis anos, dos tempos em que, ainda bem longe da maioridade, se mudou do Porto para o CAR no Jamor, em Oeiras. Já o acompanhei em dezenas de torneios de Norte a Sul do país; vi-o em Roland-Garros quando jogou o primeiro Grand Slam como júnior; vi-o em Roland-Garros quando se estreou como profissional há um ano; vi-o até tornar-se no primeiro português a bater um top 10 na Taça Davis, em Bekkestua, Noruega. Por isso, já lhe conheço bem o peso de bola acima da média, uma direita fabulosa e uma habilidade criativa também invejável.
Naturalmente, há quem o conheça muito melhor do que eu e um deles é João Maio, o pai tenístico de Henrique Rocha, que graças a “uma coincidência espetacular” conseguiu estar em Paris no dia em que os seus dois pupilos — também formou Nuno Borges — brilharam para chegarem à terceira ronda. E as palavras de quem tanto sabe reforçam o que todos pensamos, o futuro pode ser brilhante.
Em abono da verdade, nem mesmo a resiliência de Henrique Rocha foi surpreendente.
Este jovem portuense com ADN maiato nasceu para os grandes palcos e já o tinha comprovado em várias ocasiões, apenas com menos holofotes apontados — afinal, é de um torneio do Grand Slam que se trata e a cobertura é outra, apesar de por agora passar ao lado da transmissão televisiva em Portugal.
Mas não gosto de cair na tentação de não elogiar o que não surpreendente. Henrique Rocha ter, aos 21 anos, a compostura para derrotar dois franceses no qualifying (na ronda de acesso viu Luca van Assche servir para a vitória no último set), resistir ao primeiro encontro de cinco sets da carreira na estreia em quadros principais deste nível e ainda recuperar de dois sets abaixo para prolongar a estadia em Paris já fez desta uma das mais impressionantes campanhas de um português nos maiores torneios do mundo, senão mesmo a mais impressionante.
E aquele retirar das mangas tornou-se, inconscientemente, na melhor metáfora para o descrever.
Henrique Rocha é o jovem destemido que ali vimos, preparado para enfrentar qualquer adversário nos grandes palcos — sobretudo nos maiores palcos.
Falta-lhe, e ele sabe, reconheceu-o inclusive logo depois de vencer a primeira ronda, fazê-lo durante todo o ano e independentemente da dimensão dos torneios.
Quando Henrique Rocha regressou ao court depois de perder o segundo set, escrevi no Twitter que voltara mais… | Source: Raquetc
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